vendredi 12 septembre 2008




o tempo
me leva os cabelos
me deixa as saudades
preenche álbuns
com dores
sofridos cortes
sangue ralo
e sorrisos.
corações partidos

me encaixa em acasos
me entrega aos domicílios alheios
me espalha na rua
e cola meus cacos no sofá de casa

o tempo me deixa mais magro
me engorda em loucuras
e congela a covardia
em dias sem sentido
onde foge a preguiça
e resta o medo de dizer eu te amo

ele espalha os clichés
como balés de sacolas plásticas
e lixos folhosos num parque à tardinha.
me afoga em comidas
me bebe gasoso
e sopra em fumaça mal quista.
que afasta

esse tempo me estraga
cada dia um pouco mais
até exalar o fedor suculento
de uma goiaba passada
que anuncia que não serve mais
nem pra nada nem pra suco
nenhum doce. sem mordidas
sem línguas
nem boca

esse louco, o tempo
me ensina e me erra
ou aprendo ou ele me leva
e eleva aos momentos de tensão poesia e sexo
ou me priva e prova as lacunas
as verdades
e a falta que me faz
declarar e mergulhar numa imaginação
que poderia ser verdade
se eu apenas te desse meu amor

o tempo me guarda as frases
sempre condicionais
nas proposições dos meus medos
e aflitos de nunca poder ter
ou receber de ti

o tempo leva a culpa
não reclama
mas devolve com juros
e a correção de quem o controla.
eu o controlo

e estranhamente me nego
a usá-lo sempre a meu favor.

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