samedi 23 août 2008

por.um.fim.nada.próximo


por um instante pareceu-me claro o cerne do meu atual problema!
dos trabalhos atrasados e cada vez mais acumulados
à pilha de louça que conservo, admiro e alimento por mais de 24 horas, antes de liquidá-la entre respingos, esponjas, escovas, detergente e blusa+cós da calça encharcadas.
de repente, não mais não menos, o sentido tomou uma proporção tamanha que eu poderia chamar a situação de absurda e clareza de clarividência!
Como um corpo que é observado por sua própria alma proprietária ao final daquele sonho que explode em susto e taquicardia, poderia, do alto de minha translucidez, ou loucura irrefreada dizer que assumi a poltrona 14 à direita de uma sala cinemark vazia cuja exibição era o resumo da ópera. Ópera neste caso, minhas melodramáticas últimas semanas.
Como um suicida em busca de sentidos, valores e sinais de sua necessidade de permanência na terra, tenho admirado com estupefação, murmúrios e lamentações felinas (o que intimamente se revela uma admiração infanto-juvenil, daquelas com sorriso de canto de boca e um sonoro, porém interno UALLL a cada encontro com objeto admirado) os acúmulos de tarefas, a protelação de urgências e o desperdício impensável de mal usadas horas, ou abuso irregular do tempo.

Isso acontece comigo, talvez pela perda completa de parâmetros de tempo, de atividades e de vidas alheias. (melhor explicando, os parâmetros continuam por aí, nas janelas em frente, nas vozes ao telefone e nos companheiros de ronco e travessia da ponte. Isso ainda existe, mas nesse clima cada vez mais solitário, tenho esquecido de olhar pro lado) Tenho vivido meu tempo, misturando dias e noites, sonhando ao Sol de meio-dia e produzindo ao som de bárbaros uivos que invadem minhas janelas e retumbam pelos cômodos vazios.
É uma vida um pouco liberta das divisões de tempo. Magnífica seria essa afirmação se não houvesse o próximo parágrafo.

Acontece que ainda me escravizo sofrendo por não "conseguir" (pq os impecílios e desvios são escolhas e criações minhas) m`encaixar nesse tempo. Acompanhar essa esteira. E porque tão complicada e burra decisão?
Bom, parece que intrinsecamente decidi inverter papéis de passado, presente e futuro. Melhor explicando, tenho me agarrado ao futuro.
Como sabemos o futuro a Deus pertence, certo? Está escrito! É destino! Acaso... ocaso, pq não? É aquilo que ainda não foi filmado, não há script, não existem certezas, nem mesmo poderíamos criar dúvidas em relação às repetições futuras desse mesmo segundo chamado de AGORA, certo?
Pois aqui cabe uma ilustração futebolística.
Explico (a mim mesmo, que fique claro!) que como um jogador que chuta a bola (agora) para correr e alcançá-la mais a frente (futuro) (ou seja, preenchendo no momento do chute um tempo que só existirá segundos após, quando seu pé alcançar de novo a redonda) (pq sim, se a bola tivesse que evoluir junto com ele, seria mais fácil tomá-la em seus braços para então avançarem juntos) tenho eu, nem um pouco atlético, quiçá dotado de espírito esportivo, chutado meus deveres e urgências para os tempos ainda distantes no calendário, de forma a justificar a corrida dos dias e a necessidades dos amanhãs!
É um abissal compromisso (com o sentido dos dias futuros) descompromissado (com as atividades dos minutos presentes) que transforma o trabalho de um dia, em semanas de atraso, lamento e passos de cágados, uma louça de prato, copo e panela singulares com talheres em plural, numa digna louça de banquete que só é lavada quando assusta pelo espaço ocupado, ou ainda uma camada ligeira de poeira leve, em tapete grosso e finamente trançado de pó e particulas destroçadas trazidas pelo vento que só extermino quando conseguem acordar àquela alergia de infância.
Passo o dia plantando feijões em potinhos para vê-los germinar e morrer em poucos dias. Ou chutando bolas para correr pelo campo e vê-las perder velocidade até que encontrem meus pés novamente, ou pingando tinta rala e escura (quem sabe café?) na folhinha de hoje no calendário para rasgar os dias contemplando as marcas deixadas em muitas folhas seguintes.

É louco. É, talvez, um mecanismo de defesa. É minha realidade presente, aprisionando e me obrigando a acordar nos dias futuros.
É a necessidade de cobrança, reclamações e deveres que me façam (ainda que brigando por mais de 2 horas com o despertador) levantar da cama, me olhar no espelho e pensar... que merda.. tenho uma louça gigante na pia, estou mais um dia atrasado com aquele trabalho que não fiz nem 35% do que é preciso para atingir o final.
Ahh... o final. Ele é o meu temeroso rival. É o abismo do sentido. É a curva da morte onde, uma vez completa, torna-se imutável e reles passado... para sempre!
é como a premissa de eterno vazio que se aproxima ao final de um livro.
é desligar o motor e temer nunca mais ligar aquela ignição. =S

EM poucas palavras, percebi que finco e me penduro em "alguns trizes" para ver mais alguns dias nascerem felizes.

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