vendredi 27 juillet 2007

percepção aguçada



viver é diferente de estar vivo, preocupar-se em
'estar vivo', sustentar um status de vivacidade
demanda uma incessante procura de vida pelos
cantos dos segundos, momentos, desencontros e
dias percorridos aos passos largos para que não
se desperdice o tempo da procura e da ostentação
da escassez supervalorizada de vida encontrada

viver é aceitar acima de tudo que nunca nada
será como foi antes, que há unicidade em cada
molécula, ação e centelha de energia viva.


preciso confessar, ainda em vida, que me desocupo
do estar vivo para viver. e às vezes me afasto do
viver para me desocupar com procuras e reflexos
de vida em minha existência. confesso que vivo
cada sorriso, cada dor, cada tédio e que procuro
reagir sinceramente ao que me acontece, em vez de
repudiar momentos que não se encaixam na
ostentação vivaz de ser e estar presente e
pulsante. Relutar aos desatinos, reservar
exclusividade às paredes de casa para os delírios
de momentos desconfortantes e descontentes, ainda
que seja uma entrega à ostentação, pela reclusão,
não deixa de ser vida. passar horas olhando para
um teto cinza e sem sentido, viajando em certezas
masoquistas ou sádicas, ainda que soe como
lhufas, é e sempre será a ocupação de segundos
únicos, o preenchimento de um espaço de tempo
único que nunca se repetirá, com uma estática
única e pensamentos únicos. como quando, já
acomodados na cama quentinha, precisamos nos
mover um pouco para apagar a luz e tudo que
desejamos é voltar ao mesmo lugar quentinho, o
que nunca acontece e nunca acontecerá. viver é
gozar de uma exclusividade excessiva de segundos.
igualdade é um termo matemático que apropriamos
para designar a sensação de aproximadas
semelhanças, e mesmice é empregado a tudo cuja
variação nos pareça imperceptível. imperceber a
tênue alteração das unicidades em constante
avanço é o mesmo que ignorar a vida e tomar por
conhecido àquilo que por tão pequeno, relutamos
em conhecer como novo. repetir não é fazer igual,
mas parecido. automatizar pelo excesso de
semelhança, nossas vivências, experiências e
reações, seria como sentir sempre o mesmo beijo,
molhar-se sempre à mesma chuva, adotar uma
constância de ritmo aos passos da caminhada. a
particularidade é o elo seguinte à variedade e
anterior à inconstância na corrente da vida.
assim como qualquer reta, em meio a toda
organicidade e pluralidade do nosso meio, é
apenas um segmento de curva imperceptível e
consolidado como constante e exato pela afirmação
humana. atribuímos a palavra acaso, às surpresas
ou à recuperação da percepção aguçada das tênues
variações e inconstâncias da vida.

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