às vezes em minha cabeça, tudo parece transparente e resolvido.
como agora ao ter certeza absoluta de que funcionamos como uma cena de uma aventura em filme ou desenho animado que vi na infância, onde um menino, ou homem, precisa atravessar uma ponte que ele não enxerga, para chegar ao outro lado.
simples... utiliza-se um espelho e atravessa-se de costas.
não à toa toda a trama do filme culmina na necessidade dessa 'quase impossível' travessia.
e eu digo que funcionamos assim.
talvez essa afirmação esteja em pé de igualdade com a acomodada justificativa cristã para as desvarias da vida:
'deus escreve certo por linhas tortas'
o certo da frase e da comparação ao filme refere-se a nossa certeza
máxima,
'para morrer basta estar vivo',
e as linhas tortas foram brilhantemente imaginadas como uma ponte invisível onde só é possível atravessar de costas e com o auxílio de um espelho, e ah, o final da ponte é o final do filme, e se cair também será o final da vida.
opa! entreguei minha associação de todos esses fatores.
A VIDA!
existem animais, como alguns 'moluscos' (arrisco muito incerto sobre a
natureza desses animais aos quais quero me referir, baseado totalmente na
imagem retratada do 'Gary', animal de estimação do Bob esponja, que eu
penso se tratar de um molusco) cujos olhos, por estarem nas extremidades de hastes protuberantes, podem ser voltados para a própria cabeça (se é que eles tem cabeça), acredito eu.
Não é o caso da nossa espécie animal.
temos olhos para o externo de nossa identidade e necessitamos de espelhos para reconhecê-la. temos olhos para os outros, enxergamos o outro sem licença para tal e nos tornamos o outro sem sequer cogitarmos qualquer vontade de fazê-lo. é curioso como reconhecemos a familiaridade de expressões faciais em objetos, sombras, contrastes etc.
somos feitos de cacos de espelhos como nós, incapazes de auto reflexão.
talvez por isso haja tanto preconceito e falta de respeito às diferenças e tanta receptividade às semelhanças dos colonizadores de nossa retina.
Um bebê recém-nascido, que ainda possui um campo visual limitado, põe-se a chorar ao perceber a ausência da mãe, ou do pai ou da pessoa a quem se afeiçoou, diante de seus olhos. Para ele é como se o mundo tivesse acabado. A pessoa tivesse acabado e existesse somente aquilo que existe diante da sua visão naquele momento. E ele só se 'vê' e sabe de si, se vir o outro também olhando para ele. Talvez daí também se possa extrair uma compreensão para a afeição gratuita dos bebês com os animais em geral.
O contato visual nos define. a interação visual nos faz vivos, até que descobrimos espelhos, fotografias, variações de sombra e luz, distorções sobre o que parece único, nos outros e na nossa própria imagem. Uma pena que sejam raros os momentos em que somos capazes de nos enxergar. talvez sejam esses momentos, quase impossíveis, e por isso nos cercamos de olhos alheios que nos digam quem somos enquanto refletimos quem são eles.
Assim como o espelho, na cena, revela a vida e encaminha os passos para o fim da mesma, nossos espelhos, nossas relações com os outros, nossa percepção de quem somos a partir do que nos é refletido pelas interações com a nossa parte no outro, é o que nos mantém vivos. E o que nos faz sorrir, ou chorar, desejar ou ignorar.
A vivacidade padece da intolerância e do desejo.
Não é fácil perceber que somos um pouco de todos e isso inclui aqueles que julgamos diferentes, seja por cor, 'deficiência', diferença... de classe, de instrução, de ideais ou que unidos, somos espelhos e imagens, percepções e construções de ego, personagens e platéias, e que avançamos de costas, espelho em punho, mas seguindo em frente trilhando uma vida, juntos, apesar de aparentemente separados.
separados como são
nossos dedos, nossos braços, nossas mãos, nossas pernas, nossas arcadas dentárias, nossas orelhas e narinas, nossos pulmões etc...
diferentes como são
os mesmos dedos entre si, nossas duas mãos e pés e como certamente são nossas duplicatas internas que compõe nosso organismo.
juntos como
as arcadas para mastigar, os pés para sustentar o corpo e mantê-lo em equilíbrio, as mãos para inúmeras coisas, os ouvidos para captar sons, as narinas para inspirar o ar etc.
E tudo isso sem constituir máximas, sempre passíveis de variações... como realmente funcionamos e sempre fomos.
imperfeitos? não não... eu diria inclassificáveis num modelo único.
texto.pós.a.vida.de.david.gale.
p.s. queria.eu.ter.bola.de.cristal.para.adivinhar.o.contato.de.quem.deseja.meu.msn.
[arte:rené.magritte]