mais um fim de ano.
outro fim de ano.
fim. fim. fim.
/CORTA/
entendo cada vez menos o que esse sanduíche de vogal quer dizer.
vivemos de fins fictícios.
todo aparente final deixa uma marca que dura.
todas as marcas desaparecem com a morte? o último dos finais?
sobram dúvidas.
todo objeto, finito em si mesmo, se desdobra em funções, utilidades que, com imaginação, podem ir além do que foi proposto.
uma artista disse algo, certa vez, que foi parar em seu folheto de exposição,
não lembro seu nome, tampouco saberia dizer quais obras a pertenciam, mas a frase permaneceu, com os ajustes da minha memória (c`est vrai!), mas mesmo desfigurada restou.
Era algo como: "quando termino uma obra, então, ela começa a existir."
um fim trampolim pra existência frente outros olhos, outras percepções.
e cá estamos nós, caminhando - ora longos, ora curtos, exaustivos ou prazerosos - 365 dias para mais um final de ano.
mesmos costumes, mesmos arranjos, pequenas diferenças, semelhança nos sentimentos, renovação estampada no peito, ou na testa.
um desejo infinito de não ser os mesmos que fomos no ano que passou.
há quem discorde e bata o pé para ser o mesmo, sem tirar nem pôr.
não acredito em tal façanha. Mesmo os mais contentes e resolvidos querem melhorar, ou só mudar.
variar um cardápio, um comportamento, a-pren-der.
desviar um pouco o olhar daquilo ou desfocar nisso.
não sei dizer ao certo.
me confundo com esse conceito.
quando um filme acaba, ou um livro, uma peça, uma novela, sentimos, imediatamente no segundo após, um vazio. um buraco se abre e nos resta a costumeira passagem de tempo para que o sentimento diminua e a atividade seja substituída por outra.
os fins de ano são como um subir de créditos de um filme.
repassamos o que houve de bom e ruim, e com isso também enumeramos nomes, papéis, cenas, momentos para rir ou para chorar.
mas de repente… tudo está de volta aos trilhos. parecendo igual, mas sendo diferente nos cabeçalhos.
Não encontramos, mesmo com férias, esse tempo pós término de uma leitura, para digerirmos o que passou e repensarmos ou escolhermos o que virá em seguida.
e por isso utilizamos dezembro como um grande redigir de créditos, méritos e deméritos, culpas, refinamentos das atitudes, correção dos focos, repassamos um script inexistente, inaprisionável como o tempo enquanto fantasiamos o mês de felicidades, festas e corridos compromissos que não conseguimos honrar nos 334 dias anteriores.
dezembros são como sextas-feiras atribuladas de trabalho e com tempo garantido pra cerveja, ou domingos mergulhados em preguiça, mas com uma pilha de roupas sujas e louças na pia a serem expurgadas.
finais são sempre corridos e mais plurais que as outras divisões temporais.
são uma mistura de acúmulo de competências e incumbências com comemoração e alívios de deveres cumpridos (ou quase 100% atingidos.)
para mim parecem nostálgicos e visionários.
neles somos torcida, jogador e técnico ao mesmo tempo.
torcemos pela vitória, agimos em prol dela e arquitetamos os passos(ou seguimos os instintos ou o ritmo) esperando que sejam alcançadas. Nem sempre pelo simples prazer de ser vencedor, mas pelo prometido descanso subseqüente a qualquer final.
e aí reside toda a ficção da coisa.
não queremos só que acabe, queremos o descanso merecido ou melhor, queremos que acabe para que haja um novo começo que sempre vem num ritmo mais lento.
vitorioso ou não o final implica em mudança de ares.
em novidades, em excitações, descobertas e novos aprendizados.
novas terras onde possamos usar a bagagem da terra antiga como adubo.
os assuntos aparentemente findos, nunca morrem, apenas dormem dentro de nós.
durante esse estado podem ser dissecados, redistribuídos, desempoeirados, exibidos ou diluídos num esquecimento raso em que perdem a cor das significâncias. como somos insensíveis. como são desapercebidos nossos modos de categorização, que acham que martelos só funcionam com pregos e chaves só entram em portas.
tudo pode ser tão amplamente multiplicado pela imaginação combinatória desprendida de encaixes que me resta a concordância com o Nada prova nada do circo de rins e fígados de gerald thomas.
entrar num cômodo não invalida o retorno ao anterior, virar uma página não extermina o conteúdo da que passou, encerrar mais um ano não apaga o vivido.
lembranças permanecem e envelhecem. são recauchutadas pela seleção natural da felicidade (ou qualquer que seja o sentimento no foco da ribalta em seu atual estado de humor ).
variamos as lembranças, ano a ano. apagando pessoas ou incluindo outras, atribuindo a elas os cheiros da infância ou as lamúrias de alguma data dada como esquecida. que perigos são esses milhos velhos em cabeças inquietas.
mas presumo acreditar que apesar das escorregadias e nada confiáveis memórias, o aprendizado permanece. o comportamento é revelado diferente.
uma repetição com um leve grau de curvatura já não pode ser classificado(olha esse diabo aqui de novo) como repetição.
mude um botão e a camisa será nova.
mude uma pedra e a paisagem não será mais a mesma.
nem todo mundo concordará. nem todos conseguirão perceber a pequenez de um pedacinho diante do todo, aparentemente igual.
mude de 31 para 1º, ou o último algarismo de um ano e apesar da minha descrença de começos, meios e fins, teremos uma nova configuração no dia a dia.
é quer saber mais… não acontece só uma vez por ano, ou 12x.
pare de tentar contar nos dedos, fechar agendas, mudar os calendários…
o tempo, incompreensível tempo mudou agora, enquanto você piscava e meus dedos alternavam de uma tecla pra outra.
não é preciso chegar ao fim, para se propor um novo começo.
tempere sua vida como nossas avós temperavam nosso almoço de domingo.
vá provando e salgando quando necessário.
e não se esqueça que esse trabalho pode ser diário ou com a periodicidade que desejar.
grandes mudanças só acontecem com…
(ainda não me sinto preparado para finalizar a frase em poucas palavras.)
fica pra próxima vida, pro próximo dia ou quem sabe pro novo ano que aguardamos ansiosos que se torne velho.
que sejamos capazes de perceber surpresas e mudanças a cada passo, com menores intervalos de tempo. não espere 365 dias para tirar um bom gole da panela que está no fogo e perceber que ainda falta um pouquinho de sal.
perceba 2012 como não percebeu 2011. perceba seu hoje como partes de todos e como um todo encerrado em suas próprias partes.
ahh, zenão. como gostaria de conhecer-te.
teríamos muito o que discutir.
e talvez não chegássemos, em milênios, a sair do lugar.
só há a certeza da dúvida.
o resto, é questionável.
palavras ao vento de alguém que pretende não temer tanto os fins, perceber mais os meios e gozar de recomeços, sempre.
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