temofomo ou tamofu
temo que o pior da vida seja a obrigação de vivê-la todo dia. ou seria o melhor?
mas e o como se fosse o último dia?
isso é coisa que pesa.
leveza pra mim é pensar que em qualquer dia, seja o último ou não, cabe preguiça, cabe devaneio, cabe acaso ou aventura, amor ou suor de tesão, pé frio e banho quente, louça suja - pq não? - e aquela bagunça que ignoro por litros de tempo.
cabe a penteadeira, cabe música chata, cabe música que alegra os músculos e faz as articulações lembrarem o que é vida, mas bem perto disso tudo cabe aquela urgência que sufoca.
acabei de ler e aprender que temo o fomo, além de temer que o temer continue por mais tempo a destruir o país - e veja bem, a maior destruição, que pouca gente dá bola, não é o que ele faz, mas o que ele permite que outros se sintam no poder e no direito de fazer, é o mal exemplo passando por normalidade aceitável, normatividade. FUCK.
toca antony and the johnsons. há 450milênios não ouço essa voz tão acariciadora de medos e dores e bam! o shuffle do spotify da lista recém criada a partir da rádio automática da música Feeling Good traz esse rapaz de volta à memória. Engraçado que venho pensando em fazer uma lista de artistas musicais e bandas que minha memória alcançar - isso mesmo, sem consultas - e tenho quase certeza q não lembraria do antony. =/ triste, né? fiquei!
E o fomo?
Fear of missing out, é esse óleo de motor velho e queimado que faz a vida ter um desempenho pior do que poderia. é o se importar demais com a consciência de que existem 7 bilhões no mundo, uma coisa meio amélie poulain que se diverte contando orgasmos ouvidos pela noite da cidade luz, só que mais doente, mais dormente.
é o medo da mediocridade. medo de que amanhã tenha um show dos novos baianos (e vc ainda não conseguiu ver nenhum) e vc não tenha dinheiro pra ir. E amanhã - que é hoje, pq já virou a zero hora do relógio - tem mesmo e o dinheiro falta de verdade e isso dói, mas não como o FOMO.
O fomo seria melhor ilustrado se o show fosse nesse exato momento e eu tivesse a certeza (incerta, pq seria só uma alucinação da minha cabeça) de que todos os meus amigos mais queridos, conhecidos de bar, boas prosas e os mais gatos e alternativos, politizados, e possíveis futuros maridos e solteiros estariam se divertindo pra caralho, agora mesmo nesse show.
é o medo besta de que a sua vida ordinária está sendo desperdiçada com esse texto enquanto se descobrem coisas incríveis!! Sei lá, tipo curas pra idiotia humana, pro câncer, pra aids e a erradicação completa dos pensamentos nazistas e fascistas, tudo ao mesmo tempo agora e você não é parte de nenhuma dessas grandes mudanças.
é estar preso numa noite nublada em dia de eclipse lunar, ou de blue moon ou daquela lua cheia vermelha maravilhosa.
como disse no início
temo que o pior da vida seja a obrigação de vivê-la todo dia como se fosse o último dia ou como se precisasse ser o melhor.
a ficção alimenta os ideais e contraideais de vida, mas as redes sociais, alimentadas por nós, potencializam a farsa. e vice-versa ou vice-verso, que no caso parece o melhor a se fazer.
um monotasking tal qual um lavar de louças. um talher por vez para não quebrar os pratos que giram em nossos ombros e cabeças, amparados por varetas que desconhecem verdades.
para tudo. olha pro teu sul. ⬇
e tenha certeza que ele está em solo seguro. ainda que parado numa pedra que roda pelo espaço enquanto dança faceira com uma pedrinha satélite.
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