em que direção?
em que direção vão todos que respondem um simples, tudo bem? com um pronto, tô indo, tudo indo, ou vamos indo, né? Não sei qual deles é o mais encerra papo.
Pois hoje resolvi responder uma expressão dessas com uma análise rápida baseada na vontade que sinto de abusá-las.
Disse assim: "engraçado como o tudo indo impõe uma sensação de desconforto e ansiedade por melhoras."
Afirmei sem procurar condescendência do outro, e mudei logo pro trivial, (que frio da porra, né?), afim de não afundar a conversa logo de cara. Que à propósito, era virtual como a maioria dos diálogos atuais.
Ousei transcrever essa petite análise em razão do assombro que suas entrelinhas tem me causado. Venho sofrendo de ansiedade e desconforto, provenientes de uma longa espera por melhoras.
Não que a coisa esteja ruim num todo, mas uma parte tem estado preta. E quem dera que esse preto adjetivado estivesse relacionado à grana no bom sentido. Como em...queria uma grana preta, mas é a situação de grana que tá preta. O mesmo adjetivando prum sujeito diferente.
A falta de grana pode ter suas mil causas ou faltas de atitudes, mas falo de caso em que se trabalha. (por nada e por um nada de tempo determinado porém não divulgado.)
Falo de quando a burocracia lhe rouba os meses,
o tempo,
as possibilidades, e
quase a visibilidade de um amanhã qualquer.
Trata-se de poder ou não poder. tudo depende do lado que se olha, ou se vive.
Posso cumprir obrigações, mas me tolhem o querer que viriam com elas.
Cumpro e quero por isso, mas não posso e, putz, que merda que é!
Uma burocracia que te rouba na cara dura, te ata às mãos, os pés e ainda lhe tira os centavos do bolso.
A buracracia é um mal que não se encerra em si mesmo. É um mal que requer investimento de suas vítimas, o que é pior.
Os burocrátas te torturam e recebem pra isso, e você, um burocralizado impotente ante aos caminhos labirintizados que se impõe à sua frente, não vê a saída e ainda paga a entrada e as viradas de cada esquina. Viver em sociedade custa caro. Vc acorda e já gastou 20r$. Pisca e lá se vão outros dinheiros escorrendo pelo vaso, descendo pela descarga, entrando no seu estômago ou sendo arremessados por você na lata de lixo + próxima.
Esse labirinto é geométrico porque não é natural e, assim como a burocracia, é criação dos destruidores e catalogadores do orgânico. As relações humanas, suas necessidades e convergências partem de pedaços organicistas para perderem-se num todo geometrizado, "racional".
Se a razão fosse retilínea, nossas sinapses seriam linhas retas quebradas em ângulos meticulosos e seus cruzamentos obedeceriam à lógica de um compasso chato e previsível.
MAS NÃO SOMOS ASSIM!
PORÉM....
CORREMOS, ou ESCORREMOS EM ESTEIRAS GEOMÉTRICAS!
Nada gira, pq girar é orgânico, tudo segue um curso reto, um cálculo e uma exatidão castradora.
E ainda assim há quem se plante nesse vale dos milimetrados.
Engraçado partir de um Tudo bem, pruma imagem regrada de como nosso mundo tem sido visto por mim.
Quando começei a escrever esse texto, pensei que iria linearmente do desconforto financeiro para crise e depois seguiria em linha reta pra personificação dos imensuráveis.
Mas me perdi pelo caminho, ou me achei nas tortuosidades que o assunto proporcionava.
Poderia dar outra volta comparando o que escrevi com minha recente prática do design com grid. Logo eu, que sempre confiei nas proporções orgânicas e intuitivas das coisas. Pois é, mas isso é um paradoxo pra outra análise.
Essa seguiu um curso surpresa que me levou agora a pensar nos gastos da vida e em como as lógicas dos videogames nos adestram pra habitar a sociedade em que nascemos.
O paralelo é, tal qual no video game, quanto mais se age, mais se perde. Os personagens correm atrás de moedas, fogem de perigos, lutam contra inimigos e com isso perdem suas conquistas, perdem fôlego, "vida", moedas, e outros objetos angariados pelo caminho. Ou seja, ao existir, perde-se continuamente e pouco a pouco o que se tem, mas é preciso agir para repôr a perda.
Somos baterias em constante descarregamento, necessitamos de recargas pra continuar.
Isso eu já sabia, só nunca tinha percebido que o videogame tinha participado dessa educação viciosa.
Mas em contrapartida os mesmos jogos adestravam ao vício frustrante da rapidez de consumo dos estoques e da inexistência de vida, ou ação após o fim deles. Você correu, gastou, não recebeu e GAME OVER! Essa é a matemática da falha.
Alguns desavisados podem correr em defesa dos games dizendo que a tela preta do FIM induzia ao recomeço. Até aqui não discordo, mas analise os próximos dois minutos dessa retomada. Mesmo caminho, mesmo personagem, mesmas ações e mesmo fim. E lá vamos nós de novo...
Repetir o calculado pra ser difícil, o calculado pra dar errado, o calculado pra ser repetitivo, o arquitetado pra te diminuir e inserir nas massas da limitação.
Os poucos que conseguem discarrilar desse mal, caem na tentação de desvendar e desbancar a máquina e o programador, buscam dribles e falhas no sistema pra alcançar a superioridade... e tornam-se... programadores, com sede de dominação dos inalterados e limitados jogadores.
Tudo isso seria romântico e bonito se na vida real o recomeço fosse fácil como a seleção via joystick de uma opção piscante num fundo colorido com sinais sonoros torturosamente compassados e em infinito loop.
Num corpo que responde à sinapses orgânicas e embaralhadas o recomeço deve ser uma autoproposta baseada em interesse, curiosidade e fascínio.
O todo que desconhecemos, é composto por loucuras mto além do escalonàvel e arquitetável... proponha-se a descobrir algumas dessas partes. Sinta-se interagindo com elas.
Há mais além de uma esquina em 90º, há mais por trás de uma planta baixa, de uma régua T e de uma burocracia mal planejada.
Se eu desacreditar disso, não vale a pena ser alguém. Aí só vale a pena ser máquina ou desafiá-la tornando-me um designador de mesmices.
E tudo que venho buscando é a surpresa e o inesperado.
um nó em mim se afrouxou agora. Pena que tenha rendido uma leitura tão nodosa pra vocês. Mas joguei pra longe a linearidade e passeei pelo tortuoso, ou incompleto e sempre rodopiante caminho dos ventos.
até a próxima.
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